As quatro estações

   Passei dias esperando você voltar. Sabia que seria um retorno difícil! Vi a neve tocar o chão e as folhas de outono se perderem um mar branco de solidão. Da janela do meu quarto vi os pássaros migrarem para o sul e aos poucos o silêncio da noite me engoliu por inteiro.

   Chorei por noites a fio até perceber que não voltaria. Jamais voltaria a ver seu sorriso exibindo pérolas perfeitas, nem mesmo sentir seu toque macio depois de uma tarde longa de conversas. Na minha companhia agora tenho uma pilha de livros e um coração dilacerado.

   Os caminhos mornos de lágrimas se formam como rios em meu rosto. Me tornei um fantasma que vive vagando pela madrugada, sempre perguntando ao vento o porquê e esperando pacientemente uma resposta que não vem. 

   Rodo na cama, olho pro teto e continuo proferindo palavras não ditas e versos infelizes. Algum dia você iria voltar? Será que eu fui a única a olhar para trás? Quando foi que eu me perdi de mim mesma e resolvi me enfiar num conto de fadas que eu já sabia que não teria um final feliz?

   Então a neve derreteu e com ela levou meu sofrimento, meu choro e minha angustia. Levantei em uma linda tarde de primavera como se tivesse desabrochado com as flores. Abandonei o telefone e a esperança de que um dia você ligaria dizendo que me ama e que está com saudades. Vesti meu vestido laranja e prometi a mim mesma um recomeço.

   Com um sorriso no rosto me propus desvendar os mistérios do mundo e me atirar de cabeça em uma nova aventura. Uma nova pessoa, por dentro e por fora. Trabalhei como uma artista em meu futuro, minuciosamente, esculpindo cada pedaço como se fosse a coisa mais preciosa do mundo, com calma e cuidado.

    As flores se foram dando lugar às quentes tardes de verão. Em uma delas, um toque que eu a muito não escutava soou no canto do quarto. Corri os olhos até me deparar com uma pequena luminosidade sobre uma caixa de lembranças, e no meio da luz o seu nome. Não atendi, mas o recado na caixa postal deixou claro quem estava pedindo meu auxílio. 

   O embargo em sua voz me fez lembrar das noites frias em que passei apenas sonhando com o dia em que você precisaria de mim. Retornei a chamada apenas para lhe dizer que me deixasse em paz, mas eu não poderia... não deveria... 

   As pessoas se esquecem que o amor é um abismo no qual nos atiramos e torcemos para o chão nunca chegar. Eu me estatelei no chão e torci para que um dia você me estendesse a mão, e esse dia finalmente tinha chegado e pela sua voz, você havia sofrido tanto ou mais que eu.

   Nas próximas quatro estações, espero que possamos finalmente escrever um novo final, mas se não, eu já descobri o caminho para o topo e não tenho mais medo da escalada.

                                Ass: JUBs