Terceira idade- Superando Limites

Por Juliana Magano

Idosos provam que idade é apenas um número e que a juventude está no modo de pensar e agir
Ela acorda às seis da manhã e trabalha até às sete da noite. Durante a tarde concilia o trabalho com a sua formação continuada de psicanálise. Já viajou o país inteiro e leva consigo um pedaço de cada lugar por onde passou. Faz exercícios três vezes por semana e ainda arruma tempo para cuidar de seu estúdio de pilates. Ela poderia ter 20, 30 ou 40 anos, mas não. Marcia Maria Soares, 62 anos, engenheira eletrônica aposentada pelo Instituto de Pesquisas da Marinha e psicanalista atuante, se encaixa no conceito de nova terceira idade, ou seja, pessoas acima dos sessenta anos, ativas e com melhores condições de vida.
Com o aumento do número de idosos devido a avanços técnico-científicos e a melhoria dos cuidados com a saúde, mudou-se a visão do século XIX de que a vida termina aos quarenta. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no período de 1985 a 2015, a expectativa de vida deu um salto de 62,7 para 75,5 anos, o que representa um crescimento de 20,5%. O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), organismo da ONU responsável por questões populacionais, afirma que a cada segundo duas pessoas comemoram seu sexagésimo aniversário, o que transformará o Brasil em um país de idosos até 2030.
Dados do IBGE de 2005 a 2015 mostram que a proporção de idosos trabalhadores que recebiam aposentadoria diminuiu, de 62,7% para 53,8%, e aumentou a participação de pessoas com 60 a 64 anos entre os idosos empregados, de 47,6% para 52,3%, totalizando mais de 7,66 milhões de idosos com carteira assinada. O brasileiro se aposenta, em média, aos 58 anos e, de acordo com a Secretaria de Previdência Social, a cada três aposentados, dois recebem apenas um salário mínimo (954 reais).
A necessidade de complementação de renda atrelada ao tempo livre e à vasta experiência que pode ser aproveitada pelos empregadores faz com que essa parcela da população busque continuar no mercado de trabalho. A participação da terceira idade no mercado de trabalho cresceu 30% entre os anos de 2010 e 2015, de acordo com o Ministério do Trabalho. A Organização Mundial de Saúde (OMS) atesta que o trabalho na terceira idade melhora a autoestima e o engajamento, que são essenciais para um envelhecimento saudável.
 Em reunião da Sociedade Médica da Ilha do Governador, ocorrida em 25 de outubro, 64 dos 112 presentes tinham idades entre 58 e 84 anos. Metade já está aposentada em alguma esfera pública, mas continua atuando em consultórios particulares, e todos sem previsão de parar.
A partir da descoberta da penicilina, em 1928, doenças banais não matam mais com facilidade, o que permitiu que as pessoas vivessem mais. Outra descoberta revolucionária foram as estatinas, em 1976, substâncias utilizadas no tratamento do colesterol alto e na prevenção da aterosclerose, placas de gordura no coração responsáveis pelo infarto.
A parcela idosa cresceu de 8.15% da população em 2000 para 12.51% em 2017 de acordo com o IBGE. Devido a esse crescimento surgiu a Gerontologia. Essa ciência estuda o processo de envelhecimento humano com atenção às necessidades físicas, emocionais e sociais que surgem com a idade. Um envelhecimento ativo é prioridade para essa nova terceira idade que não se contenta mais em apenas sentar e tricotar.            
Ana Beatriz Bianchini, dentista de 36 anos, ao procurar uma nova secretária para sua clínica odontológica na Ilha do governador, decidiu priorizar pessoas acima dos sessenta anos. Para ela, contratar um idoso significa aproveitar ao máximo a experiência que ele possui. Uma das vantagens apontadas pela dentista é o fato de pessoas idosas muitas vezes terem sua vida afetiva estabilizada e filhos já crescidos, o que diminuiria o número de faltas ao trabalho. “É a junção de qualidade de mão de obra, disponibilidade, maturidade e experiência que procuro”, afirmou.

A terceira idade e a tecnologia

            Pagar contas pela internet, fazer compras online, buscar informações, transações bancárias, se comunicar com parentes em outro estado, são algumas facilidades da internet mais usadas pela terceira idade. Estudos da OMS em seu Relatório Mundial de Envelhecimento e Saúde, aponta que o engajamento da terceira idade a respeito das tecnologias duplicou entre os anos de 2010 e 2015. Além de estimular o cérebro e aprimorar as habilidades cognitivas, o uso da tecnologia ajuda com a memória e, em caso extremos, a prevenir a depressão. A interação e socialização via internet ajuda os idosos a melhorar seu desempenho no trabalho e em suas vidas pessoais, alcançando novos horizontes.
            Segundo o IBGE a parcela de idosos que utilizam o celular cresceu de 16.8% em 2005 para 55.6% hoje. A utilização desses aparelhos oferece melhoria nas capacidades motoras e visuais, atenção e processamento de informação.
Carmen Bianchini decidiu, aos 80 anos, que iria aprender a utilizar o celular e o computador. De acordo com ela, a facilidade de se comunicar e resolver problemas do dia a dia, conferem a sua vida mais independência. “ Com tantos aplicativos ficou mais fácil sair e me divertir com meu marido e meus amigos”, alegou Bianchini.

A quarta idade

            No relatório sobre envelhecimento e longevidade da OMS, a terceira idade começa aos sessenta anos. Porém, com todas as mudanças, essa faixa etária se encaixa mais no perfil de jovem idoso, e por isso se faz necessária a criação de uma nova classificação.
A quarta idade começa a partir dos oitenta anos. Se em 2010 havia menos de 3 milhões de pessoas com 80 anos ou mais, e em 2060 haverá mais de 19 milhões de pessoas nessa faixa etária. Na projeção para 2016, o país contabilizava 3.458.279 idosos com mais de 80, segundo o IBGE. Essa nova classificação assume as características da antiga terceira idade.
            Se envelhecer é inevitável, a qualidade de vida é uma escolha. O mundo descobre, periodicamente, formas de aumentar a qualidade de vida. A mentalidade da população avança conforme o mundo evolui, novas tecnologias são descobertas e aqueles vistos como “velhos” provam que a idade é apenas um número e a juventude está no modo de pensar e agir. A terceira idade é uma faixa etária onde as pessoas se arriscam a quebrar os estereótipos e viver melhor, é onde tudo pode acontecer.

            Marcia Maria Soares, personagem inicial do texto, é um dos muitos exemplos de nova terceira idade. Apesar de aposentada, possui uma carreira em psicanálise, sua verdadeira paixão. Para complementar sua renda, administra seu estúdio de pilates funcionando de segunda a sábado na Ilha do Governador. Possui facebook, instagram e whatsapp e não se intimida com as novas tecnologias. No auge do seu vigor, ela afirma que ainda tem muitas realizações pela frente.

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