Memórias

   Você se foi, mas eu prometi que não olharia para trás. Não, eu não poderia ficar relembrando a todo tempo nossos momentos, nossos beijos, nossas aventuras. Então eu tentei fingir que você não existia. Tranquei o que era seu no fundo do armário e no fundo do coração. Por alguns dias consegui sair de casa sem aquele aperto chato no peito ou as lágrimas nos olhos.
   Mas não dá para fugir. As lembranças foram mais rápidas que eu e me pegaram na primeira esquina. Foi como um soco na barriga, um tapa na cara ou qualquer coisa que você possa associar à dor e surpresa. Foi naquela esquina, aquela mesma que nos conhecemos. Eu com um vestido amarelo e você com o sorriso brincalhão. Foi como reviver o início do sentimento e... o fim dele.
   Tentei sair de lá, mas era convidativo demais pensar em você, pensar em nós. Preciso dizer que achei que não teria um fim. Achei que era o meu conto de fadas. Pensei que acordaria todos os dias com o seu sorriso e o seu jeito fofo de dizer eu te amo. Ah... o nosso amor. Com certeza a coisa mais inesperada que já aconteceu comigo.
   Ainda lembro do momento exato em que tive certeza de que te amava. Foi naquele restaurante das docas, onde você me contou da felicidade que sentia quando seus pais te levavam lá (você só tinha três anos, mas jurava lembrar-se de tudo). Foi nesse momento, entre a entrada e a sobremesa, ouvindo suas histórias e admirando seu jeito de menino, que eu tive certeza de que te amava incondicionalmente. 
   Sentada naquela esquina eu lembrei da nossa primeira briga e de como custamos a fazer as pazes. Foi por causa do seu ciume bobo, que você não conseguia demonstrar direito. Eu achava fofo o modo como tentava me proteger e me dizer, sem palavras, o quanto tinha medo de me perder. E eu também tinha... na verdade, posso afirmar que era pavor. Pavor de um dia você sair pela porta e levar consigo todas as lembranças que um dia construímos.
   Comecei a lembrar daquele dia nublado em que você chegou em casa e estava muito estranho. Eu sentada no sofá e você andando de um lado para o outro enquanto passava as mãos no cabelo. eu conseguia sentir o frio na espinha na medida em que você tentava me explicar o que não podia ser explicado. 
   Enfim, você entrou no quarto e demorou cerca de meia hora para sair de lá. Mas dessa vez, acompanho de duas grandes malas. Você me disse que ali terminava nossa história e que havia uma outra pessoa. Eu não tinha palavras, me sentia tonta e ao mesmo tempo não consegui fazer nada. Você saiu pela porta e na mala levou meu coração. Fiquei escorada no batente pelo que se pareceram horas até ter a força necessária para fechar a porta.
   Desde então eu tenho tentado não saber de você. Não quero um dia descobri que está casado, feliz, com filhos. Mas também não quero descobrir que ela partiu o seu coração e te deixou na rua da amargura. Sabe? Eu não aguentaria te ver sofrer. Eu te amei como a Julieta amou o Romeu, a Catherine amou o Heathcliff ou a Hazel Grace amou o Augustus. E carrego a dor da perda deles todos os dias.
   Espero um dia amar outra vez e que seja épico como as histórias dos meus livros. E nesse dia, quando passar pela nossa esquina, eu não chore. E você não passará de uma lembrança fria. Uma ferida que criou casquinha e nem cicatriz deixou. E nosso amor ficará no passado... que é o lugar dele...
                                                                               Ass: JUBs

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