Ele não vê...

   Não, ele não percebe quando eu choro em silêncio. Não escuta quando eu suplico ao universo que faça essa dor parar. Ele não vê quantas vezes eu volto ao lugar onde tudo terminou, apenas como mais um modo de tê-lo por perto.
   Não tenho mais as conversas filosóficas sobre o universo nerd e, até mesmo, da dublagem. Não tenho mais o abraço quente e nem o ombro que eu insistia em usar como travesseiro. As boas lembranças se tornaram tristes e eu ainda me apego a elas, quase como se fossem a minha âncora.
   Eu não sei se ainda o amo e nem o porquê de me agarrar tanto a esse capítulo encerrado. Sinceramente... não me importa que ele não tenha me amado e, muito menos, que ele tenha partido. Me importam os bons sentimentos que eu tinha quando ele estava aqui, além dos planos, os sonhos...
   Por isso, acho que sinto que perdi alguma coisa, que falta uma parte de mim. Que falta aquilo que eu achava que era ele. Mas, ao contrário do que todo mundo que está ao meu redor pensa... Eu não o quero de volta.
   Ele refez a vida e eu reconstruí a minha. Já não há espaço para um "nós". Apenas singulares "eu" e "ele", mesmo que depois virem apenas duas lembranças co-existindo. Por isso eu o faço eterno nas minhas memórias e, assim, tenho ele o tempo todo.
   Em cada momento, desde que eu acordo até a hora que eu vou dormir. Do céu ao inferno, ele é uma marca em mim. Tenho duas opções, aceitar ou enlouquecer. O que vai acontecer só o tempo dirá.