Qualquer tempestade tem fim...

   É, cá estamos nós restabelecendo o contato. Tudo bem, sei que sumi por um tempo, mas a vida não está dando trégua. Entre a correria da rotina e a estagnação da quarentena, acabei me perdendo um pouco nos meus sentimentos. E, sim, você tem razão, muitos textos foram escritos e perdidos em meio aos meus papéis bagunçados.
   Se eu pudesse começar dizendo o que estou sentindo, diria que nem eu sei o que estou sentindo. De uma hora para outra, aquilo que era perfeito virou de cabeça para baixo e se tornou algo estranho, desconhecido.
   Como mar calmo não faz bom marinheiro, estou tentando manter a cabeça no lugar. Ficar trancafiada durante essa quarentena, como um animal de zoológico, não está ajudando muito. Cada hora que eu acho que vou ficar sozinha com os meus pensamentos, aparece alguém para me tirar a concentração.
   E, mesmo rodeada de gente, ainda me sinto sozinha. Não é uma sensação que eu desejaria para alguém, mesmo que seja partilhada por muitos de nós. Não sei o que fazer e nem tenho para onde ir. Os filmes e séries já não me animam como antes e ficar trancada faz com que meu peito vire uma panela de pressão, prestes a explodir.
   Agora, sentada no frio da madrugada, me pergunto o que deveria fazer daqui por diante. Deveria agir como se nada estivesse acontecendo e fingir que estou super animada e feliz? Deveria me render a todos esses sentimentos tristes e abraçar a solidão como uma velha amiga? Deveria simplesmente não fazer nada e ficar aqui sentada?
   Qualquer tempestade tem fim, mesmo que a linha de chegada esteja nublada demais para ser avistada. Penso em todas as vezes que assisti ao meu mundo desabar, como um castelo de cartas. Também consigo lembrar de todas as vezes que tirei forças sabe-se lá de onde para re-empilhar uma a uma e reconstruir o meu refúgio, apenas para que em outra tarde de vento ele seja colocado abaixo.
    Decidi subir a âncora, baixar as velas e ver para aonde essa tempestade me leva. Afinal... ela está me chamando.